Mas você foi Sozinha?

Dez anos e muitos destinos depois, ainda ouço com frequência essa pergunta, em tom de espanto, de admiração e até de pena.

Sim, sozinha. Sozinha mesmo. Não, não tinha nenhum amigo ou amiga junto. Sim, eu tenho amigos. Mas a data não dava. Ninguém se animou. Sim, talvez fosse mais divertido. Não, não foi ruim. Não, não acho que seja uma loucura. Sim, sozinha.

Tudo começou em maio de 2013. Era uma noite fria. Eu, meu passaporte, minha mala e meus muitos receios passamos pelo embarque, entramos no avião e partimos para aquela que seria a minha primeira viagem sozinha. Engolindo o choro e mantendo a pose de mulher segura, que repeti outras inúmeras vezes.

Mesmo já sendo adulta, independente, morando sozinha já há um bom tempo, fora do meu estado natal, e de já ter o hábito de fazer várias coisas sozinha –praia, cinema, museus, restaurantes – viajar dessa forma nunca tinha me passado pela cabeça.

Até que aconteceu. Tirei férias e não conhecia ninguém que pudesse viajar naquela mesma data. Era seguir sem companhia ou não fazer nada. Como nessa altura o bichinho das viagens já tinha me picado – e como eu já tinha uma condição que me permitia ter um planejamento financeiro para isso – fui.

É claro que, na prática, a decisão não foi assim tão simples. Muitos questionamentos, muitos medos, muitas pesquisas, muitas noites em claro. E se eu não gostasse? E se as pessoas reparassem que eu estava sozinha e me achassem ridícula? E se algo horrível acontecesse comigo? E se desse tudo errado? O que parecia um labirinto onde eu me sentia perdida, no fim virou um infinito de possibilidades. Eu encarei todas as entradas e todas as estradas que pude encarar.

Levei ao pé da letra aquele clichê de que “se der medo, vai com medo mesmo”. Porque o medo, infelizmente, é uma constante em nossa vida. Não importa onde. Nós, mulheres, vivemos em uma sociedade machista e estamos expostas às variadas formas de violência o tempo todo, em qualquer. Inevitável que, diante disso tudo, encarar uma viagem na própria companhia seja uma decisão cercada de neuras e difícil de ser tomada.

Ainda somos pouco (ou nada) incentivadas a sermos independentes. Recebemos olhares tortos sempre que fazemos qualquer coisa sozinhas. Somos julgadas por tomarmos nossas próprias decisões, pelas roupas que usamos e pelas experiências que decidimos viver – inclusive viajar. E temos de seguir, apesar disso. Fazer o nosso caminho (já pavimentado por tantas que vieram antes) e, aos poucos, quebrar outros paradigmas e mudar ainda mais algumas situações.

Foi pensando em tudo isso que, além das dicas de turismo que eu já compartilhava no meu blog, o Mariana Viaja, comecei a focar também no fato de estar sozinha. Lá (e no instagram @marianaviaja) eu conto histórias, levo dicas e informações sobre minhas andanças por aí – um pouco de tudo que pretendo fazer também aqui, nesse novo espaço do qual agora faço parte.

Acho difícil tomar experiências pessoais como base para aconselhar outras pessoas a fazerem o mesmo, porque, definitivamente, não é assim que as coisas funcionam. E quero deixar claro que não acho que toda mulher tem que viajar sozinha. Mas sei que há muitas que gostam (ou gostariam) de viajar assim e acho que toda mulher tem que ter esse direito. Meu objetivo vai ser sempre o de mostrar possibilidades.

Que cada uma de nós possa ocupar cada vez mais os espaços que deseja. E que a gente possa viver sem precisar ficar se explicando ou tentando provar que nossas escolhas são legítimas. Somos muitas, felizmente. Diferentes caminhos, diferentes caminhadas. Mas todas, de alguma forma, abrindo novos olhos – e novos espaços – por aí.