Não querer ou não gostar de viajar sozinha também faz parte
O número de mulheres que viajam sozinhas está cada vez maior, muitas compartilhando nas redes suas experiências, estimulando outras a também saírem pelo mundo. Eu, que cheguei por aqui quando tudo ainda era mato, me incomodo quando percebo que muita gente começou a romantizar demais. E, nos conteúdos do meu blog Mariana Viaja e instagram @marianaviaja, peguei a contramão. Não, não quero desestimular ninguém a viajar sozinha. Pelo contrário. Mas quero mostrar o lado real, imperfeito e às vezes até insatisfatório, porque ando sim de saco cheio ao ver tanta gente falando disso como se fosse a certeza de uma experiência transformadora pela qual todo mundo deveria passar pelo menos uma vez.
Uma experiência que foi boa para mim ou para você ou até para muita gente, não necessariamente vai ser boa para todo mundo. Acho muito louco quando vejo algumas publicações com essa insistência exatamente porque nós mulheres crescemos ouvindo que todas têm que isso ou aquilo, aí meio que quebramos ao não fazermos o que, em tese, todas teriam de fazer… e muitas fazem a mesma coisa criando outras caixinhas e querendo que as outras entrem.
Viajar sozinha virou quase que tema de autoajuda nas redes sociais, o que é péssimo e até perigoso. Mostrar o lado maravilhoso, colocar algo como sinônimo de empoderamento, pode causar até frustração em quem não teve um momento incrível na própria companhia. Porque ninguém é assim o tempo todo.
E eu quero dizer que tudo bem. Às vezes é chato, às vezes é diferente do que a gente sonhou, às vezes você não vai querer ir. Pode ser um momento ruim, pode estar tudo bem e de repente a solidão bater por não conseguir conhecer outras pessoas, entre tantas outras situações.
Sem falar que não dá mesmo para fazer tudo, os perrengues podem acontecer, as fotos podem ficar horríveis. Entendo a frustração. A gente gasta dinheiro, tempo, a gente cultiva expectativas. E muitas dessas expectativas são alimentadas exatamente por quem está na internet balançando a bandeirinha do mundo perfeito e feliz.
Me vê uma passagem para Nárnia, por favor. Porque aqui, no mundo real, esse lugar não existe. Não assim de forma absoluta, como uma garantia de que vai dar tudo sempre certo. Por que às vezes é chato mesmo, às vezes é diferente do que a gente sonhou.
Por essas e outras não indico destinos quando me perguntam para onde ir. Onde é bom. Quem tem que saber essa resposta é quem está indo, não eu. Você gosta de praia ou de montanha? De aventura ou calmaria? De programas históricos e culturais ou de natureza? Escolher um um destino que seja a sua cara aumenta muito as chances de dar certo.
E se em algum momento não for bom pra você, nada de desistir ou pensar que não deu certo. É assim com todo mundo. Mas isso não tem a ver com viajar sozinha. Viajar em grupo pode ser uma experiência ruim, em casal idem. E viajar sozinha também.
Sim, eu sei que é péssimo gastar dinheiro em uma experiência ruim. E que uma viagem gera grandes expectativas. Mas deixar de ir por causa disso é outra história. Até porque, se for assim, a gente não faz nada.
Então minha dica continua sendo: vá! A gente muda, cada viagem é diferente. Mas vá aberta, sem esperar que seja uma perfeição. A vida não é assim toda linear - mas pode ser muito boa se a gente se permitir!