Desigualdade e Abandono de Animais no Brasil: O Impacto no Turismo


No Brasil, um país marcado pela desigualdade, a realidade não é diferente entre os animais de estimação. Enquanto ocupamos o ranking entre os maiores mercados pet do mundo, também vivemos a cruel realidade de mais de milhões de animais abandonados. Assim como é entre as crianças, enquanto alguns pets têm festa de aniversário, frequentam creches e aulas de natação, outros literalmente morrem de fome.


Dados alarmantes da Organização Mundial da Saúde estimam que no Brasil existem cerca de 30 milhões de animais abandonados, incluindo 10 milhões de gatos e 20 milhões de cachorros. Este cenário levanta uma questão importante: como isso afeta o turismo? A resposta é mais complexa do que parece.


O turismo é inerentemente ligado à qualidade do ambiente visitado, não podemos falar de qualidade do destino sem pensar na qualidade de vida dos moradores, e isso precisa incluir os animais não humanos também.


Animais domésticos nas ruas, ou com livre acesso a ruas e áreas de natureza, causam sérios prejuízos ao meio ambiente, incluindo a predação de espécies nativas. Além disso, contribuem para problemas sociais, como acidentes de trânsito, mordeduras, brigas com outros animais e zoonoses.


Como turista, é doloroso testemunhar animais nas ruas, afetando nossa percepção sobre um destino. Muitos outros viajantes, especialmente os que são apaixonados por pets como eu, compartilham dessa experiência.


Aspectos culturais

Além da questão do abandono, em muitas regiões existe ainda a cultura de que os animais devem viver livres, e muitos cães e gatos, apesar de terem “donos” têm livre acesso a rua e são criados “soltos”, são os animais semi-domiciliados, que embora recebam algum tipo de cuidado, também estão expostos aos mesmos problemas que os animais abandonados.


Animais domésticos, como cachorros e gatos, não são animais silvestres e não devem viver livres. O processo de domesticação dos cães se iniciou há aproximadamente 25 mil anos, enquanto dos gatos há 5 mil anos. Eles precisam de um lar, cuidados e afeto.


À medida que o mercado de turismo pet friendly cresce no Brasil, é vital lembrar que a preocupação com os animais deve se estender a todos, incluindo os moradores e os que vivem nas ruas. Para transformar um destino em um local verdadeiramente pet friendly, é essencial investir no cuidado e na saúde dos animais locais, e isso inclui programas de castração, de saúde e manejo populacional.


Além disso, é fundamental promover campanhas de conscientização sobre a importância da esterilização de animais de estimação, a necessidade de manter os animais sob cuidados responsáveis e ações para reduzir o abandono de animais. A educação pública desempenha um papel vital na mudança de atitudes e comportamentos em relação aos animais.


Em resumo, para ser pet friendly de verdade, não basta ser friendly só com os pets dos turistas, é preciso ser friendly com todos os animais, principalmente com os locais. Isso não apenas melhora a qualidade de vida dos animais, mas também atrai turistas que valorizam o bem-estar animal, promovendo um ambiente mais seguro e acolhedor para todos.


Sharlene Irente

Autor: Sharlene Irente

Sócia-fundadora da Cãomigo, há 6 anos atua na área de Turismo Pet Friendly, Formada em Psicologia, pós-graduada em Psicologia Organizacional, MBA em Gestão de Negócios e pós-graduada em Customer Experience em Turismo...


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** Todo artigo em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados, não reflete necessariamente a opinião do programa São Paulo Mais Perto.


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